segunda-feira, 14 de junho de 2010

Copa do mundo: apenas para lembrar


Ah, Brasil, minha pátria amada mãe gentil. Ano de copa do mundo. Ano de ser patriota. Agora, sim, muitos de nós brasileiros lembramos que juntos fazemos parte de um país. Formamos uma sociedade que, agora, está unida para assistir aos jogos da seleção brasileira de futebol. Infelizmente, não faço parte dessa turma. Infelizmente, para eles, em copas do mundo de futebol, torço pela seleção alemã. Quando digo isso passo a ser observado com olhares que misturam a cólera ao desdém, como se fizesse algo de errado.

Copa do mundo, para mim, é um breve divertimento. Um entretenimento. Não vejo motivos para dedicar-me mais a ela que a política de meu país. Copa do mundo acontece apenas de quatro em quatro anos. A política está presente todos os dias integralmente, diz respeito a tudo que nos cerca enquanto sociedade.

Os jogadores da seleção brasileira não resolverão a situação precária do transporte público em quase que todo o meu país assim como não resolverão os problemas concernentes à saúde publica, à segurança, à educação, à corrupção. Muitos desses jogadores, inclusive, moram em paises onde essas questões estão bem controladas. Não são as feridas que incessantemente sangram como são aqui no país da seleção que eles jogam. Mas, inclusive, muitos desses jogadores saíram de lugares onde essas feridas já expelem pus; contudo, não fazem uso – nem têm obrigação disso, claro – do reconhecimento deles a fim de fazer com que seus sectários usem o ânimo deles não apenas para o futebol, mas para que, no mínimo, a constituição de nosso país seja levada a sério. Como isso é possível? Esses mesmos jogadores possuem uma racionalidade irrisória, embora passem a ganhar muito dinheiro, eles não pensam em aproveitar isso para adquirir conhecimento: só sabe o valor do conhecimento aquele que já provou dele – eis ai um fato. E, aproveitando o assunto, como não lembrar do belo exemplo que o jogador Adriano dá aos mais jovens? Brincar de tirar fotos fazendo, com as mãos, a sigla do Comando Vermelho. Adriano, amigo de traficantes que matam pessoas sem um mínimo de complacência – você quer sair do gueto, mas a sua mente é o gueto.

Após tudo isso, as pessoas querem vituperar-me por eu torcer pela seleção alemã? Ora, mas isso é um absurdo sem precedentes. Desdenhosamente olho para aqueles que se orgulham de ser brasileiros apenas em época de copa do mundo ou em amistosos da seleção. Esses, sim, verdadeiros estorvos para o desenvolvimento da nação brasileira. Esses que dão as costas aos cinqüenta mil homicídios que ocorrem por ano no país da seleção que eles dizem amar. A imbecilidade é tamanha ao ponto de justificarem a torcida deles pela seleção brasileira de futebol como “pátria”. Como já comentei aqui: eles confundem seleção de futebol com exército. Só pode ser isso.

Enquanto me estresso com os problemas reais da sociedade que faço parte e eles dão as costas, continuarei a torcer: Alemanha tetra em dois mil e dez.